O
jovem José Guilherme Silva, de 20 anos, que aparece na foto acima, morreu no
dia 14 de setembro do ano passado dentro de um camburão da Força Tática da PM
de Limeira, no interior de São Paulo. Antes de entrar no carro, sob a acusação
de ter participado de um assalto, ele tinha sido revistado pelos policiais “nos
pés, tornozelos, cintura e genitália”, conforme eles próprios
admitem. Os policiais não encontraram armas com ele. José
Guilherme foi algemado com as mãos para trás. O pai do menino, José
Alves, conseguiu chegar ao local a tempo de ver seu filho
apanhando da polícia. Diante de mais ou menos 30 pessoas, ele
entrou imobilizado e desarmado no camburão.
Segundo
a versão dos policiais, poucos minutos depois, quando a viatura se
dirigia à delegacia com o jovem dentro, José Guilherme teria sacado um revólver
38 de cano longo e atirado contra a própria cabeça. A bala, segundo os exames
criminalísticos, percorreu uma trajetória de cima para baixo. O tiro foi dado a
uma distância de cerca de 50 centímetros da cabeça.
No
laudo, o perito escreveu provavelmente uma das maiores pérolas da história
do instituto de criminalística, digna de entrar no roteiro de um CSI
brasileiro – que certamente seria uma comédia. Depois de examinar o
disparo na cabeça e ver que o preso estava algemados para trás, o perito
justifica a possibilidade do suicídio nos seguintes termos: ”isso
envolve um estudo personalíssimo da habilidade do agente que encontra-se
algemado. E é sabido nos meios policiais tanto sobre a habilidade de movimento
de alguns detidos, bem como sua condição pessoal de burlar a revista”.
Passados
cinco meses, apesar dos fortes indícios contra os policiais que participaram da
ação, pais e irmãos do garoto ainda lutam para provar que seu filho foi
executado dentro da viatura e para verem punidos os responsáveis
pelo crime. Como os policiais permanecem na rua, o resultado da luta da
família, por enquanto, foi apenas um: expor pai, mãe e cinco filhos (um deles
gêmeo de Guilherme) ao risco de represálias. Quando foram conversar com um
dos que participaram da detenção de José Guilherme, Maria de Lourdes
Jesus Fagundes, e a mãe Claudia Regina, tiveram que ouvir: “antes um bandido
morto do que um policial morto”.
Sem
desanimar da luta fadada a inúmeras frustrações, as duas foram buscar ajuda da
comissão municipal de direitos humanos de Limeira e da comissão estadual da
Assembleia Legislativa, onde também funciona a Comissão da Verdade. É
desanimador, passados mais de 40 anos da fase mais violenta da Ditadura
Militar, sabermos que ainda se vive sob fortes suspeitas de
que simulações de suicídios ainda são usadas para simular execuções.
Por
último. Caro leitor que vai me atacar dizendo que estou “defendendo bandidos e
atacando a polícia paulista”. Conte até dez e respire antes de começar a
teclar. Perceba que talvez não seja esse o ponto da discussão. E saiba que há
muitos policiais militares que compreendem que esse tipo de teatro nefasto está
corroendo as estruturas da corporação, a ponto de fazê-la em breve desmoronar.
O
blog já pediu informações para a PM a respeito do caso. Mas ainda não obteve
retorno.
Fonte: Estadão
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